4- Epidemia amorosa
A cidade amanhece diferente. As pessoas podem sentir no ar uma misteriosa partícula de excitação que ao mesmo tempo causa confusão e assombro. (O que está tramando, contador de histórias? Não vai me deixar saber?). Simultaneamente em diversas regiões acontecem alterações no comportamento de indivíduos comuns. Há registros de um grande número de internações médicas em que os pacientes apresentam sintomas de febre elevada, aceleração anormal do ritmo cardíaco ou hipersensibilidade dos sentidos. (O que está acontecendo?). Em algumas áreas, unidades policiais são requisitadas por moradores preocupados com situações em que indivíduos de ambos os sexos e de diferentes classes sociais protagonizam cenas extravagantes de amor e, em alguns casos mais drásticos, de amor e morte. (A que estamos expostos, droga?).
As autoridades governamentais estão alarmadas com a velocidade crescente com que a invisível moléstia ataca a população e tentam junto à comunidade médica encontrar mecanismos para deter o avanço da doença que surgiu nas primeiras horas da madrugada. Os jornalistas já batizaram a metamorfose emocional que acomete de maneira tão inesperada diversos cidadãos de epidemia amorosa, (que nome ridículo!) porque algumas pessoas sob o efeito da moléstia estão sofrendo de crises agudas de romantismo, ansiando por carinhos e carícias que segundo elas aliviam o desconforto causado pela brutal febre. “Por favor, me abrace”, imploram. “Me beije agora. A febre está me matando!”, afirmam com gestos de desespero em meio a calafrios. (Isso não está acontecendo! Isso não está acontecendo!). Como ainda não se conhece a forma de transmissão da suposta doença, os indivíduos que apresentam sinais de alteração no comportamento indicando a possibilidade de contaminação acabam sendo repelidos por seus acompanhantes, a não ser por aqueles que também são acometidos pelos mesmos sintomas. A rejeição tem um efeito catastrófico sobre os doentes, fazendo com que alguns irrompam em manifestações súbitas de choro e levando outros, principalmente as mulheres, ao desmaio. (Você está delirando, narrador!). Em contrapartida, há poetas espalhados pelas esquinas da cidade. As floriculturas nunca tiveram um faturamento tão elevado, pois é comum nas ruas a visão de amantes segurando flores. Em todos os lugares, há cenas patéticas, poéticas ou cômicas de pessoas a declarar o seu amor. De fato, a epidemia amorosa transforma o cotidiano frio e indiferente da maioria dos cidadãos com uma potente avalanche de emoções. Se você não acredita em minhas palavras, venha comigo. Você não tem medo de se contagiar pela epidemia amorosa, tem? Você tem receio de se apaixonar? Vamos às ruas vivenciar momentos de loucura sentimental de uma população. (Aonde você está nos levando? Não se atreva a sair daqui!).
Um cenário que poderia ter sido criado por uma entidade divina com bastante senso de humor surge diante de nossos olhos. O caos também se revela com poesia. (Que se exploda a poesia! Leve-me de volta, agora!). As pessoas parecem ter saído de suas casas ao mesmo tempo, pois as ruas estão superlotadas. Algumas cantam, outras dançam e há ainda aquelas que se amam sob a luz matinal do sol. O tráfego está parado, pois os carros em sua maioria foram abandonados. Um guarda de trânsito está ajoelhado em lágrimas diante de uma senhora de setenta e cinco anos que ostenta uma rosa vermelha sobre a orelha direita. Ele repete insistentemente frases como: “Todos os dias eu vejo você, minha flor” ou “como eu a amo, velhinha”. Ela sorri e finge ignorá-lo. A cena se repete dezenas de vezes. Enquanto isso, um homem negro de porte atlético e uma mulher de longos cabelos loiros estão abraçados com força. Gritam em uníssono: “Nós somos um só!”. No sétimo andar de um prédio, uma mulher solitária berra em agonia: “Alguém me dê amor!”. Um homem na rua ouve o chamado e tenta em vão escalar as paredes do edifício. Cinco moças seminuas à semelhança de ninfas mitológicas cantam uma música angelical enquanto lançam pétalas de flores sobre um casal adolescente que se beija com inocência. Veja, que surpresa! À nossa esquerda está Dona Dorotéia, a megera desagradável da festa de ano-novo. (A delicada mocréia) está usufruindo dos sensuais beijos e carinhos de um rapaz de vinte anos. A cada instante, novas imagens curiosas se sucedem em um ritmo louco. Quanto mais andamos, maior é a certeza de que a epidemia amorosa dominou a cidade.
As autoridades governamentais estão alarmadas com a velocidade crescente com que a invisível moléstia ataca a população e tentam junto à comunidade médica encontrar mecanismos para deter o avanço da doença que surgiu nas primeiras horas da madrugada. Os jornalistas já batizaram a metamorfose emocional que acomete de maneira tão inesperada diversos cidadãos de epidemia amorosa, (que nome ridículo!) porque algumas pessoas sob o efeito da moléstia estão sofrendo de crises agudas de romantismo, ansiando por carinhos e carícias que segundo elas aliviam o desconforto causado pela brutal febre. “Por favor, me abrace”, imploram. “Me beije agora. A febre está me matando!”, afirmam com gestos de desespero em meio a calafrios. (Isso não está acontecendo! Isso não está acontecendo!). Como ainda não se conhece a forma de transmissão da suposta doença, os indivíduos que apresentam sinais de alteração no comportamento indicando a possibilidade de contaminação acabam sendo repelidos por seus acompanhantes, a não ser por aqueles que também são acometidos pelos mesmos sintomas. A rejeição tem um efeito catastrófico sobre os doentes, fazendo com que alguns irrompam em manifestações súbitas de choro e levando outros, principalmente as mulheres, ao desmaio. (Você está delirando, narrador!). Em contrapartida, há poetas espalhados pelas esquinas da cidade. As floriculturas nunca tiveram um faturamento tão elevado, pois é comum nas ruas a visão de amantes segurando flores. Em todos os lugares, há cenas patéticas, poéticas ou cômicas de pessoas a declarar o seu amor. De fato, a epidemia amorosa transforma o cotidiano frio e indiferente da maioria dos cidadãos com uma potente avalanche de emoções. Se você não acredita em minhas palavras, venha comigo. Você não tem medo de se contagiar pela epidemia amorosa, tem? Você tem receio de se apaixonar? Vamos às ruas vivenciar momentos de loucura sentimental de uma população. (Aonde você está nos levando? Não se atreva a sair daqui!).
Um cenário que poderia ter sido criado por uma entidade divina com bastante senso de humor surge diante de nossos olhos. O caos também se revela com poesia. (Que se exploda a poesia! Leve-me de volta, agora!). As pessoas parecem ter saído de suas casas ao mesmo tempo, pois as ruas estão superlotadas. Algumas cantam, outras dançam e há ainda aquelas que se amam sob a luz matinal do sol. O tráfego está parado, pois os carros em sua maioria foram abandonados. Um guarda de trânsito está ajoelhado em lágrimas diante de uma senhora de setenta e cinco anos que ostenta uma rosa vermelha sobre a orelha direita. Ele repete insistentemente frases como: “Todos os dias eu vejo você, minha flor” ou “como eu a amo, velhinha”. Ela sorri e finge ignorá-lo. A cena se repete dezenas de vezes. Enquanto isso, um homem negro de porte atlético e uma mulher de longos cabelos loiros estão abraçados com força. Gritam em uníssono: “Nós somos um só!”. No sétimo andar de um prédio, uma mulher solitária berra em agonia: “Alguém me dê amor!”. Um homem na rua ouve o chamado e tenta em vão escalar as paredes do edifício. Cinco moças seminuas à semelhança de ninfas mitológicas cantam uma música angelical enquanto lançam pétalas de flores sobre um casal adolescente que se beija com inocência. Veja, que surpresa! À nossa esquerda está Dona Dorotéia, a megera desagradável da festa de ano-novo. (A delicada mocréia) está usufruindo dos sensuais beijos e carinhos de um rapaz de vinte anos. A cada instante, novas imagens curiosas se sucedem em um ritmo louco. Quanto mais andamos, maior é a certeza de que a epidemia amorosa dominou a cidade.
Um comentário:
que fofo!
Postar um comentário