Parte 3 de 4 do conto-continuação O premiado

De Rafa Lima

“Não vai dormir, Fernanda? Pensei que estivesse cansada da premiação, da festa, de todo aquele circo”. “Fiquei tão animada com o nosso encontro que não consegui dormir, a premiação, o seu prêmio de melhor diretor, a festa, a nossa primeira noite juntos, são muitos eventos sensacionais para uma noite apenas. Como não consegui relaxar a mente, vi que havia uma cópia do seu filme em cima do vídeo digital do hotel. Vai entregar para algum produtor, não vai? Resolvi assistir de novo à abertura. É incrível, Heleno. O ritmo da cena, a edição, o texto, o ator, que performance!, a utilização da imagem para fazer o espectador assumir o papel do deputado em alguns instantes, os silêncios, o tédio existencial diante do sofrimento extremo, como é possível?, é tudo incrível, Heleno! A cena tinha mesmo que ser em preto-e-branco, está certíssimo! Você é um mestre do vazio e trabalha a imagem sem arrogância intelectual”. “Obrigado, Fernanda. Além de atriz, você tem potencial para crítica baba-ovo”. O silêncio grita de tanto constrangimento. “Desculpe! Não quis ofendê-la, mas chega de elogios, por favor. Não fico à vontade. Me sinto um mentiroso, quando me elogiam com tanto exagero”. “Que tal uns beijinhos, então?”. “Obrigado, Fernanda, mas agora preciso de espaço, tenho que pensar um pouco”. “O que quer dizer com pensar?”. Heleno não responde. Ele observa o troféu recebido que se encontra sobre o criado-mudo. O olhar ultrapassa a matéria e vai longe, além do quarto, chegando ao sótão onde se guardam pensamentos fora de uso. “Ainda bem que nunca voltei para a terapia. Revelar-se diante de um psicanalista significa a busca por uma nova infância, porque o silêncio do analista assume às vezes ares de um simulacro do primeiro vazio causado pelo pai ou pela mãe. Queremos ser premiados pelo mundo numa euforia neurastênica para esquecermos por alguns instantes de que as nossas perdas têm o poder de se mostrar muito maiores do que somos, quando estamos frágeis. Saturno devorando os próprios deuses-filhos”. “O que você está pensando tanto, querido?”. “Nada de importante. De repente, fiquei melancólico”. “Quer que eu vá para o meu hotel?”. “Não precisa. Vamos tomar o café-da-manhã juntos daqui a pouco. O restaurante do hotel abre às sete”. “A que horas é o seu vôo para o Rio de Janeiro?”. “Às cinco da tarde”. “O meu para Sampa está marcado para as três horas”. “Dá tempo de sobra”. “Que bom que você é um homem carinhoso, Heleno. Espero que a gente se reencontre logo”. Heleno observa Fernanda por alguns instantes. A moça vinte anos mais jovem do que ele está deslumbrada com a mecânica da indústria cultural, natural!, a arte intoxica mas não mata, entretanto, a atriz ainda não sentiu a mão da desesperança lhe tocar o ombro, “tudo a seu tempo”. Provavelmente, primeira e última vez juntos, nus, excitados e dispostos sobre uma mesma cama, “muitos adeuses para uma mesma vida”. Heleno se levanta e caminha em direção à varanda do quarto. O relógio marca 5h43 da manhã. Oito andares abaixo, ele avista duas freiras que caminham lado a lado a passos lentos. “Eu as invejo. Que firmeza de sentido!”, sussurra. “Como é possível?”, ela o surpreende.

Continua na espetacular parte final


O sentimento não pode parar!

O futebol carioca precisa se unir, reestruturar, retomar a sua força, é uma pena que Botafogo e Fluminense estejam nessa situação e que
o Vasco tenha tido que tombar para lembrar que é gigante. O Flamengo se orgulha em ser o menos pior? É o bastante? Lembrem da história desses clubes! Associem-se, votem e pressionem as diretorias. Cariocas, uni-vos!

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