Parte 2 de 4 do roteiro de curtametragem Achados e perdidos do amor

De Rafa Lima

Inscrição na tela: Euforia
4. Externa. Barraca de cachorro-quente. Madrugada.
MARINA e NICOLAS estão comendo cachorro-quente.
NICOLAS – Quem diria que no nosso primeiro encontro a gente acabaria comendo cachorro-quente de madrugada no meio da rua?
MARINA – Eu gostei. Não sou daquele tipo de mulher mimada que só se preocupa com status e que vive para ostentar o que tem para os outros. Eu prefiro oferecer sorrisos e receber em troca a felicidade das pessoas com quem me importo.
NICOLAS sorri por alguns segundos.
MARINA – Viu só? É disto que estou falando.
NICOLAS – Você é linda, Marina! Não faz idéia de como a sua companhia faz de mim uma pessoa melhor.

Inscrição na tela: Força
5. Interna. Apartamento de Michel. Manhã.
MICHEL está sozinho em seu apartamento, sem camisa, diante do espelho da porta do armário, exercitando-se com pesos. Pára de repente e fica encarando a própria imagem refletida.
MICHEL – Será que eu preciso tanto assim da aceitação das outras pessoas? (C
lose na imagem no espelho) O que você me diz?

Inscrição na tela: Diversão
6. Interna. Um apartamento de sala grande. Noite.
Uma festa. Cerca de vinte jovens estão reunidos, cantando, bebendo e dançando. Música barulhenta. MARINA e NICOLAS estão em um canto, enquanto MICHEL está sozinho do outro lado.
MARINA – Estou tão feliz!
NICOLAS – (
Seco) Você está bêbada! Vou ao banheiro.
MARINA percebe MICHEL à distância. Ele olha para ela com insistência. Close no olhar dele. Ela sorri encabulada e desvia o olhar. Ele começa a se aproximar, mas pára quando NICOLAS retorna. Começa a tocar uma música de sucesso que potencializa a loucura das pessoas, levando-as a gritar, pular e dançar freneticamente. No meio da música, acontece um blecaute. Por alguns instantes, ficam todos sem reação no escuro. Logo, em meio à escuridão, as pessoas começam a cantar a música novamente como se nada lhes pudesse estragar a felicidade.
Continua na parte 3

O sentimento nos trouxe de volta!

O futebol carioca unido é muito mais forte! Parabéns às torcidas da cidade maravilhosa pelo espetáculo que têm apresentado nos estádios.
Eu amo o Rio de Janeiro, é bom demais ser carioca.

Veja filmes de Darren Arenofsky, leia Nelson Rodrigues, ouça Chico Science e Nação Zumbi, faça sexo com cuidados básicos, volte sempre ao
Fantástico mundo do Rafa!

Enquanto isso em PESSOINHAS


Parte 1 de 4 do roteiro de curtametragem Achados e perdidos do amor

De Rafa Lima

Créditos iniciais.


Inscrição na tela: Alegria

1. Interna. Quarto de Marina. Noite.

MARINA e AMIGA estão no quarto. A AMIGA está sentada diante de um computador e permanece hipnotizada diante da tela do aparelho por toda a cena. MARINA procura insistentemente algo no chão. Finalmente, encontra.
MARINA – (Elétrica) Achei!!! Achei o brinco que a minha avó me deu. Eu estava procurando há mais de um mês. Que bom! Que bom! Como é maravilhoso quando a gente se sente tão bem com uma coisinha simples como esta, não é mesmo?
Não há resposta.

Inscrição na tela: Incerteza
2. Interna. Quarto de Nicolas. Noite.
NICOLAS está falando ao telefone, sentado diante de uma parede branca. Sobre ele estão sendo projetadas continuamente imagens aleatórias de jovens de diferentes povos e cenas marcantes do mundo atual. Close em NICOLAS.
NICOLAS – (Angustiado) Eu me sinto perdido. A cada dia que passa, tenho menos idéia do que estou fazendo neste mundo. Não tenho problemas, mas também não tenho talento. Estou com quase trinta anos e não passo de um morto-vivo. Se ao menos eu soubesse para que sirvo!

Inscrição na tela: Desilusão
3. Externa. Uma movimentada avenida tipicamente urbana. Noite.
Imagens de caos urbano com texto em off de MICHEL. Close em MICHEL. Prédios iluminados. Pessoas caminhando apressadamente. Cores e luzes da cidade. Carros, ônibus e motos. Uma menina de cabelo colorido. Uma senhora idosa sob o olhar de um marginal. Cartazes de propaganda. Vitrines de lojas com preços de produtos. Um grupo de pessoas vestidas da mesma forma. MICHEL parado no meio da loucura da cidade.
Texto em off de MICHEL – O que é o jovem do século vinte e um? É um ser que busca os seus sonhos? Ou será que ele quer transformar o mundo? Mas como se vivemos na superfície de nós mesmos? Mas de que jeito se temos medo de sentir? Como é possível não se tornar uma peça do mecanismo do sistema dominante sem se machucar? Não é por acaso que nós, jovens do século vinte e um, em maioria, somos animais acomodados que só se preocupam com os próprios privilégios e regalias! A vida real nos oferece uma perspectiva nada atraente. Ninguém quer ser parte da multidão mecânica de pessoas sem rosto que se locomove de um lado a outro, fingindo que vive. Será que o jovem do século vinte e um é capaz de reaprender a sonhar?
MICHEL caminha pela rua e encontra um MENDIGO.
MENDIGO – Me arruma um trocado, irmãozinho?
MICHEL – Eu só tenho a oferecer um pedaço do meu espírito. Que tal um bate-papo para afastar a solidão?
MENDIGO – (Surpreso) Você não é desses malucos que bota fogo em mendingo, não, né?
MICHEL – Eu sou do tipo de maluco que quer fazer bem às pessoas.
MENDIGO – (Cordial) Então, pode tomar um gole da minha branquinha, porque papo é comigo mesmo.

Continua na parte 2

O sentimento nos trouxe de volta!
O futebol carioca unido é muito mais forte! Parabéns às torcidas da cidade maravilhosa pelo espetáculo que têm apresentado nos estádios.


Eu amo o Rio de Janeiro, é bom demais ser carioca.

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Enquanto isso em PESSOINHAS


Parte 4 de 4 (Final) do conto O premiado

De Rafa Lima

“Eu as invejo. Que firmeza de sentido!”, sussurra.
“Como é possível?”, ela o surpreende.
“Fernanda do céu! Não estou interessado em um ataque cardíaco”.
“Não mude de assunto. Como é possível que você inveje duas freiras? Ficou doido? Você é um dos maiores criadores desse país. Por que invejaria uma fé baseada na ignorância e na cegueira das pessoas que se sustenta através dos séculos com uma mitologia que se repete ad infinitum?”.
O diretor ri de modo singelo ao perceber que a declaração inflamara o espírito da atriz.
“De que me adiantam tanto glamour e tantas idéias originais? Talvez eu esteja interessado em uma vida menos complexa. Talvez eu

deseje uma vidinha bem simples. Quem sabe, casa, mulher, filhos, rotina, passeios no zoológico, filmes arrasa-quarteirão na tarde de domingo?”.
“Mas pelo que li a seu respeito você sempre rejeitou quase todas essas coisas! Está pensando em abandonar o meio cultural? Quem seria a sua mulher?”.
Heleno pensa a contragosto na ex-esposa Ella Benarrivo, que o trocou por um juvenil astro do Rock, também premiada pela atuação como filha do deputado no filme. Não quer pensar nela, ato defensivo, mergulha em uma memória afetiva, em certas tardes, em vez de almoçar, Ella e ele faziam amor por horas e depois esgotados adormeciam. Ao despertar estavam cegos! Ao menos era o que parecia, pois a noite chegara, envolvendo-os com tamanha escuridão que destoava da felicidade do momento, Ella se erguia, reclamando, “sempre eu, sempre eu que levanto”, e acendia a luz do quarto, sim, sim, ainda videntes, ainda nus. A felicidade a dois se perde no momento do ato para ser descoberta para valer muito tempo depois, in memoriam. Heleno está fodido, artista premiado de coração partido, ho, ho, ho, hi, hi, hi, ha, ha, ha, “se Ella não se separar rapidinho, rapidinho do pirralho, espero que morram em algum acidente!”.
“Ei, Heleno, ainda estou aqui!”, chacoalha-o Fernanda. “Responda!”.
“Nada disso realmente importa. Apenas tive um momento de epifania, quando avistei as freiras”.
“Momento de quê?”.
“Existem obras de arte que de tão espetaculares ridicularizam e confundem o próprio autor”.
“Sente-se assim agora?”.
“Na verdade, só queria que os meus filmes fossem vistos e desejados por pessoas como aquelas freirinhas”.
“Oh, vem cá, meu amor, vem cá! Você é um homem e tanto”.
De repente, um odor invasivo de fritura toma o olfato do diretor, afastando-o da catequese sonhadora. A arte, também asquerosa e atraente, impregna o ambiente tanto quanto, quem sabe ainda mais, “a arte está para o sonho assim como a fritura está para a carne exposta ao óleo quente na frigideira”.
“Que história maravilhosa estaremos perdendo, Fernanda?”.
“O que quer dizer, querido?”.
“De onde vem esse cheiro?”.
“Não estou sentindo nada”.
“Quem estará fritando bifes no oitavo andar de um hotel às seis horas da manhã?”.

Fim


O sentimento nos trouxe de volta!
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