10.
De volta ao tempo em que o tempo não se fazia notar! O ano inicial na mansão do tio Demétrio foi sem dúvida o mais agitado da vida do pervertido. Não é por acaso que a mente dele costume retornar com freqüência à essa época. Durante os primeiros seis meses passados desde a absurda, despudorada e fascinante proposta do empresário, um verdadeiro voyer da alma alheia, o pervertido se lançou de cabeça em um cotidiano promíscuo de atentados erótico-sentimentais de suposta vanguarda, proporcionando grande alegria ao patrocinador do projeto. Dia após noite após dia após noite, o despertar o conduzia à busca e à invasão da carne e da mente femininas. As horas eram preenchidas de modo pleno com estratagemas de conquista e com o usufruto dos prêmios. Ó, musas inspiradoras da poética vilania! Assim, o pervertido se deparou com momentos de repetitiva espontaneidade diante das seguidoras de Afrodite, onde o desafio do bárbaro emocional era provocar e sacudir com estímulos inesperados a vida de uma desconhecida por dia, arrastá-la uma única vez para além dos próprios princípios conservadores ou acomodados e rapidamente desaparecer da vida dela. “Que talento possui esse menino! Que lábia!”, pensava Demétrio. Entretanto, a matéria do desejo não pode ser controlada em ritmo matemático sob o risco de gerar um resultado nada exato. Melhor foi pensá-lo em termos relativos. “Que se foda o desafio. Prefiro aproveitar a evolução dos acontecimentos”, repetia o pervertido constantemente. Mais de 180 dias inesquecíveis dividindo-se em segredo entre 113 meninas, moças, mulheres e jovens senhoras bonitas, feias, mais ou menos, indiferentes ou sensacionais, com nomes reais ou fictícios a ser esquecidos por ele em breve ou mesmo anônimas, conquistadas em única ocasião em variados níveis de intimidade física e sentimental, mais tia Leila, a quem ele oferecia o privilégio exclusivo de retornar por algumas horas ligeiras de uma a três vezes por semana.
O mundo era feito de beijos salivados ou frios, mordidas que geravam diversas reações, sorrisos com múltiplos significados, poucas aulas de psicologia na faculdade, muitas aulas de psicologia feminina nos bares, nos cinemas, nas praças, nos carros, nas camas, seios aos montes, segredos revelados de maneira inesperada, diversos tipos de cabelo e cor de pele, pequenas frescuras habituais de comportamento personalizadas pelo intelecto de cada uma, bocetas pequeninas, médias, grandes, apertadas, raspadas, arreganhadas, sorridentes, oferecidas, resistentes, aracnídeas, com diferentes níveis de lubrificação, gozos em timbres diversificados ou aprisionados pelo silêncio da própria alma, ou seja, mulheres movidas em maioria por padrões hipoteticamente respeitáveis de repetição social mas com o ímpeto libertino, necessário e renovador em estado de dormência parcial ou completa (às vezes, não). “Que virtuose!”, comemorava Demétrio diante dos eventos narrados de maneira tendenciosa pelo sobrinho.
“Que virtuose você é, menino!”, exaltava-se o homem mais velho. “Já contratei o escritor que vai escrever a sua história”.
A vida assumira ares de uma viagem sensorial diária e constante ao complexo mundo das mulheres.
O mundo era feito de beijos salivados ou frios, mordidas que geravam diversas reações, sorrisos com múltiplos significados, poucas aulas de psicologia na faculdade, muitas aulas de psicologia feminina nos bares, nos cinemas, nas praças, nos carros, nas camas, seios aos montes, segredos revelados de maneira inesperada, diversos tipos de cabelo e cor de pele, pequenas frescuras habituais de comportamento personalizadas pelo intelecto de cada uma, bocetas pequeninas, médias, grandes, apertadas, raspadas, arreganhadas, sorridentes, oferecidas, resistentes, aracnídeas, com diferentes níveis de lubrificação, gozos em timbres diversificados ou aprisionados pelo silêncio da própria alma, ou seja, mulheres movidas em maioria por padrões hipoteticamente respeitáveis de repetição social mas com o ímpeto libertino, necessário e renovador em estado de dormência parcial ou completa (às vezes, não). “Que virtuose!”, comemorava Demétrio diante dos eventos narrados de maneira tendenciosa pelo sobrinho.
“Que virtuose você é, menino!”, exaltava-se o homem mais velho. “Já contratei o escritor que vai escrever a sua história”.
A vida assumira ares de uma viagem sensorial diária e constante ao complexo mundo das mulheres.
6 comentários:
Esse romance ainda vai me render surpresas agradáveis, há quem diga que pela linguagem cinematográfica deveria virar filme, mas será que o roteiro acompanha a minha insanidade calculada? Nada politicamente correto. Amém.
Mas é claro que o roteiro acompanha!Esse nao é o problema... e sim as pessoas que interpretarao, se consiguirao entender a logica, se é que existe...Digamos: Tom Waits (é estou numa fase), Juliete Lewis, Daniel Day-Lewis e por ai vai... uhauahauhauhau
Entao, pense com carinho sobre o filme, mas enquanto isso... uma peça seria otimo!!!! hehehehehehe
Bjus cabeçao!
As mulheres são submissas ao pervertido ou ele também se dá mal? (rs) Espero que atualize logo, bjs.
Machismo é ruim tanto o masculino quanto o feminino, mas não é o caso, é? (rs)Parece bem mais que isso, bj.
nem achei machista, não, mais irônico, quando tem mais?
Também não acho machista não. É muito mais um manifesto "protect me from myself!" num contexto pra lá de pervertido mesmo.
Sabe quem me lembra? O Florentino, do seu querido Gabriel Garcia... intenso mas superficial! (Polêmico? Hope so!)
Beijo, Fernanda. (quer dizer... Mariana... fiquei até confusa!rs...)
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