Trecho 3 do romance O pervertido

De Rafa Lima

O delírio de fazer a cidade ficar grávida (Partes 27-28)

27.

O pervertido tem as horas de Sol da sexta-feira livres para refletir. Sente-se estranho pelo excesso de leveza. Tamanhas são a entrega e a confiança que tem na namorada que afinal optou por abrir mão de todo o talento para a promiscuidade e da capacidade de com pouquíssimas palavras possuir mulheres e mais mulheres de diferentes tipos, gostos e cores. É hora de explorar até as mais longínquas fronteiras do novo mundo descoberto em sua mente. Quem inventou Gina? Como são possíveis tantas delícias reunidas? Dias depois do último e quer acreditar que definitivo encontro clandestino com tia Leila, ele caminha no parapeito da cobertura do prédio mais alto da cidade. Não pretende pular. Ao contrário, supõe que agora sabe voar. Não há ninguém por perto. A não ser um homem de terno preto, gravata vermelha e (o que está acontecendo?) salto-alto cor-de-rosa que rapidamente se aproxima.
“O que foi? A minha presença atrapalha?”, questiona o indivíduo-surpresa. “Cuidado para não cair daí”.
“De onde eu conheço você?”, esforça-se para lembrar o pervertido.
“De um lugar onde a chuva é feita de cerveja”.
O pervertido se confunde.
“Você só se sente feliz com o que é óbvio”, prossegue o sujeito. “Por que não tenta novas formas de ver o mundo?”.
“O que acha que estou fazendo aqui?”, reage o pervertido de maneira defensiva. “Nos últimos meses, tentar novas formas de ver o mundo é tudo o que tenho feito”.
“Tem certeza?”.
Os dois se silenciam por um instante.
“Como se forja um espírito amoroso em um homem na violenta, banalizada e frenética sociedade contemporânea?”, questiona de repente o cara esquisito. “Já disse, cuidado para não cair lá embaixo!”.

2 comentários:

Anônimo disse...

quando você vai publicar esse romance? Prefiro ler inteiro.

Diana Monteiro disse...

Adorei!!! Tem um que de Californacation.... é bem vc.. hahahaha