De Rafa Lima
O céu
Também chove no paraíso!, para refrescar de tanta perfeição, “livros são asas”, Vicky Pierrot se tornou parte do mito da máfia das letras, o grupo de pessoas que se fizeram invisíveis para intoxicar a cidade de cultura questionadora, imoral, poética mas também carnívora, nunca foram descobertos os métodos de atuação, somente se criaram hipóteses, conjecturas e lendas urbanas, “Rufus Lemon é um dos mentores?”, “não viaja, esse cara nunca existiu!”, não se sabe, mas fato é que os minilivros apareceram do nada em bairros diferentes para públicos diversificados em variadas ocasiões, resguardados pelo elemento-surpresa a que nenhuma investigação do poder público foi capaz de neutralizar, “de onde tiram o dinheiro que financia a brincadeira?”, “por que perder tempo com um esquema nada lucrativo?”, “qual é o real objetivo da ação?”, “será possível uma máfia que aposte no desenvolvimento intelectual do povo?”, muitas perguntas sem esclarecimento, por outro lado, quem disse que a população não se interessaria por literatura?, Deus está na comunicação, o Diabo na falta dela, ho, ho, ho, hi, hi, hi, ha, ha, ha, de graça, bem escrita, acessível, fragmentada, adjetivada e futura, olhos com sede, água vale mais do que petróleo, leitura estimulante a quem não se habituou a ter os clássicos entre as mãos, como é bom produzir novos leitores, despertar-lhes o desejo, soprar-lhes no cangote imagens de mundos e de idéias que os libertem por alguns instantes de tudo aquilo que já está estabelecido ou quase morto-vivo, desejo, desejo, desejo, da menininha tímida ao herói que não vê mais graça em tanta luta até o velho desenganado, (os muito antigos diziam: “Vá se phoder!”, com ph, estranho!), como é possível que a reunião de palavras possa dar tanto tesão?, que a transcrição do inquieto vasculhar da alma humana produza tamanha simbiose com o que há de melhor por vir?, que um livro se torne de repente um cobertor contra tantos vazios?
“Vicky, vamos apavorar essa cidade com pensamentos fantásticos, você só precisa criá-los e amamentá-los, a gente cuida de todo o resto”, “a gente quem?”, “não interessa a você saber mais do que já sabe, é mais seguro, acredite”, “sei, aliás, não sei, nem o seu nome”, na verdade, reconheceu-o de outra época, mas ainda não quer revelar a descoberta, “está disposta a se entregar de verdade à nossa causa?, quer ser a maior escritora do nosso tempo?”, “é claro, lógico, óbvio!”.
Continua...
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