Parte 1 de 4 do roteiro de curtametragem Achados e perdidos do amor

De Rafa Lima

Créditos iniciais.


Inscrição na tela: Alegria

1. Interna. Quarto de Marina. Noite.

MARINA e AMIGA estão no quarto. A AMIGA está sentada diante de um computador e permanece hipnotizada diante da tela do aparelho por toda a cena. MARINA procura insistentemente algo no chão. Finalmente, encontra.
MARINA – (Elétrica) Achei!!! Achei o brinco que a minha avó me deu. Eu estava procurando há mais de um mês. Que bom! Que bom! Como é maravilhoso quando a gente se sente tão bem com uma coisinha simples como esta, não é mesmo?
Não há resposta.

Inscrição na tela: Incerteza
2. Interna. Quarto de Nicolas. Noite.
NICOLAS está falando ao telefone, sentado diante de uma parede branca. Sobre ele estão sendo projetadas continuamente imagens aleatórias de jovens de diferentes povos e cenas marcantes do mundo atual. Close em NICOLAS.
NICOLAS – (Angustiado) Eu me sinto perdido. A cada dia que passa, tenho menos idéia do que estou fazendo neste mundo. Não tenho problemas, mas também não tenho talento. Estou com quase trinta anos e não passo de um morto-vivo. Se ao menos eu soubesse para que sirvo!

Inscrição na tela: Desilusão
3. Externa. Uma movimentada avenida tipicamente urbana. Noite.
Imagens de caos urbano com texto em off de MICHEL. Close em MICHEL. Prédios iluminados. Pessoas caminhando apressadamente. Cores e luzes da cidade. Carros, ônibus e motos. Uma menina de cabelo colorido. Uma senhora idosa sob o olhar de um marginal. Cartazes de propaganda. Vitrines de lojas com preços de produtos. Um grupo de pessoas vestidas da mesma forma. MICHEL parado no meio da loucura da cidade.
Texto em off de MICHEL – O que é o jovem do século vinte e um? É um ser que busca os seus sonhos? Ou será que ele quer transformar o mundo? Mas como se vivemos na superfície de nós mesmos? Mas de que jeito se temos medo de sentir? Como é possível não se tornar uma peça do mecanismo do sistema dominante sem se machucar? Não é por acaso que nós, jovens do século vinte e um, em maioria, somos animais acomodados que só se preocupam com os próprios privilégios e regalias! A vida real nos oferece uma perspectiva nada atraente. Ninguém quer ser parte da multidão mecânica de pessoas sem rosto que se locomove de um lado a outro, fingindo que vive. Será que o jovem do século vinte e um é capaz de reaprender a sonhar?
MICHEL caminha pela rua e encontra um MENDIGO.
MENDIGO – Me arruma um trocado, irmãozinho?
MICHEL – Eu só tenho a oferecer um pedaço do meu espírito. Que tal um bate-papo para afastar a solidão?
MENDIGO – (Surpreso) Você não é desses malucos que bota fogo em mendingo, não, né?
MICHEL – Eu sou do tipo de maluco que quer fazer bem às pessoas.
MENDIGO – (Cordial) Então, pode tomar um gole da minha branquinha, porque papo é comigo mesmo.

Continua na parte 2

O sentimento nos trouxe de volta!
O futebol carioca unido é muito mais forte! Parabéns às torcidas da cidade maravilhosa pelo espetáculo que têm apresentado nos estádios.


Eu amo o Rio de Janeiro, é bom demais ser carioca.

Veja filmes de Federico Fellini, leia Rubem Fonseca, ouça Tom Waits, faça sexo com cuidados básicos, volte sempre ao Fantástico mundo do Rafa!

Enquanto isso em PESSOINHAS


15 comentários:

Diana Damasceno disse...

Roteiros....roteiros....roteiros, como diria Oswald de Andrade.

Diana Damasceno disse...

Esse comentário aí de cima é da damasceno.

Ingrid disse...

Que surpresa! Tem algo que você não escreva! Quanta produtividade. Beijão.

ALICE disse...

Gosto muita da sua versatilidade e também da forma irônica com que valida os afetos. Nesse roteirinho parece estar mais tranquilo, mais carinhoso, bom né? Beijo da sua sempre fã, Alice.

Marina Thompson disse...

Fofo!
Já li todo.

Gil Rodrigues disse...

Adorei o formato do curta. Me encanta muita as coisas fragmentadas que falam por si, mas na verdade falam de um todo. Quero logo o restante.

Silvio Pozatto disse...

rafa, meu querido,

é tao bom poder elogiar com sinceridade, sob o efeito da admiração!
voce sabe escrever muito bem, rafa!
sem firulas, seco e suave!
só nao gosto que seja assim tao conta-gotas!
eu estava preparado pra ir muito além, mas vc nao deixou!
entao agora acelera, porra!
adoro o 'michel' dizendo por mendigo que ele é o tipo de maluco que gosta de fazer o bem pras pessoas!
uau!
beijos e um final de ano muito alegre e leve!

silvio

Airam Pinheiro disse...

HEHE... RODAMOS QUANDO?

Clara Linhart disse...

Gostei bastante,
estou curiosa para ler o resto!

Beijos, Clara

Diabo disse...

mmmmmm...

Julio Cesar Leal disse...

Rafa, li e gostei muito! Mas sou suspeito por ser fã seu!
Sua linha de criação traz muitas realidades dos jovens, bom encontrarem também as soluções!

Lia seu lindo roteiro, quando falava de uma jovem de cabelo pintado (acho) e veio-me na cabeça que estava numa praça em Amsterdã com Sönia, Julio e Seu Amigo Vitor, estes ainda crianças de uns 3 ou 4 anos, portanto há mais de 20 anos atrás, no fim do século XX, e não é que passa na nossa frente uma lambreta guiada por uma senhorinha nos seus 80 anos, quase nada demais se o cabelo dela não fosse pintado de azul, imagem inesquecível prá época, impensável no Brasil.

Um abraço natalino (não do Natalino Joel),
Julio

Unknown disse...

Oi Rafa!!!

Como sabe tb sou suspeita p/ falar de vc, pois sei um pouco de vc, mas mesmo assim acho q nao sou tendenciosa mas...Suas pensamentos e ideias sao observacoes do real do humano , muito mais do q a simples realidade cotidiana. Continue assim e ainda nao consegui ler td, mas lerei. Parabens!!!
Ah!!! A tal velhinha motoqueirade abelos coloridos e vero. Bjos Sonia Tinoco

Ana Paula Secco disse...

Oi, Rafael, legal ver seu trabalho,
beijos, Ana

Victor Gil disse...

Rafa, tentei fazer um brincadeira semântica com a pontuação, com base no texto, não deixei ser trabalhoso, para ser uma brincadeira, não com tudo. nicolas coloca as virgulas ou as palavras? aguardo um encontro de cerveja e futebol e conversas no vindouro ano, pois agora não dá, e e-mails, abraços - victor esperando e-mail pois não fiz votos neste para o fim do ano porque este não é o fim dos e-mails. e me manda alguma coisa sobre adão e eva.

=

Créditos iniciais.

Inscrição na tela: Incerteza
2. Interna. Quarto de Nicolas. Noite.
NICOLAS está falando, ao telefone, sentado, diante, uma parede branca. Sobre, ele, estão, sendo, projetadas, continuamente imagens, aleatórias de jovens, de diferentes povos, do mundo atual.
NICOLAS – Angustiado - perdido- me sinto A cada dia! que passa, tenho menos, idéia, o que estou fazendo, neste mundo.

Inscrição na tela: Desilusão

tipicamente: Uma movimentada avenida urbana Externa Noite.

Imagens de caos urbano: texto em off de MICHEL, Close em MICHEL,. Prédios iluminados, Pessoas caminhando apressadamente, Cores e luzes da cidade, Carros, ônibus e motos, Uma menina de cabelo colorido, Uma senhora idosa, sob o olhar um marginal, Cartazes de propaganda, Vitrines de lojas, com preços, produtos, Um grupo de pessoas, vestidas, da mesma forma, MICHEL, parado, no meio da loucura, da cidade.

O que é: um jovem, sec vinte e um, Texto em off de MICHEL, É um ser que busca os seus sonhos, Ou, será, ele quer transformar o mundo, Mas, como, se, vivemos, superfície, nós, mesmos? Mas de que jeito? se temos? medo? sentir? Como é possível não se tornar uma peça do mecanismo do sistema dominante sem? machucar? Não é por acaso. que nós, jovens, em maioria, do século vinte e um, somos animais, acomodados, só se preocupam - com os próprios - privilégios e regalias! A vida real! nos oferece! uma perspectiva! nada atraente. Ninguém quer ser parte, mecânica, da multidão - de pessoas - sem rosto - que se locomove de um lado a outro, fingindo que vive.

Homem-Máquina disse...

"A vida real nos oferece uma perspectiva nada atraente. Ninguém quer ser parte da multidão mecânica de pessoas sem rosto que se locomove de um lado a outro, fingindo que vive. Será que o jovem do século vinte e um é capaz de reaprender a sonhar?"

Reaprender significa que já se soube em algum momento...será?
Na minha opinião, enquanto jovem do séc. XXI, nós já somos parte dessa multidão, independente de sermos capazes de sonhar ou não. Uma coisa independe da outra. A não ser que se trate de um sonho coletivo. Não sei bem se esse é o caso dessas conexões ocultas.
No mais, nossa capacidade de sonhar não imuniza nossas crises existenciais, isso quando não as intensifica. Temos que entender que a existência humana, por si só, é caótica. Somos inverossíveis, contraditórios, enigmáticos.
Logo, acredito que nossa capacidade de sonhar é inversamente proporcional a nossa "compreenção" da vida.
Neste sentido, bora tomar uma cerva?
Grande Abraço