Ramiro desmonta o monstro esquizofrênico de três cabeças, sociedade implica em parceria, “chega!, cansei de não ser ouvido, eu só quero ser respeitado e admirado pela liberdade de fazer escolhas diferentes das suas!”, arma no rosto, “vou morrer agora!, adeus”, plec, nada!, solta o revólver sobre a mesa como criança que cansou do brinquedo, cobre o próprio rosto com as mãos, Teodoro fica puto, “correu da discussão, artista?”, escárnio, “viadinho, viadinho, via-di-nho!”, “pára, Teodoro”, “não se mete, Zé”, o irmão da classe média observa o irmão rico que insiste, “viadinho!”, revolta, raiva, desprezo, posse da arma de novo, Ramiro aponta para Teodoro, aperta o gatilho, plec, nada!, reação, “filho da puta desleal!”, Teodoro aponta para Ramiro, aperta o gatilho, plec, nada!, “parem com isso, seus dementes!”, não param, plec de um lado, nada!, plec do outro, nada!, patetas em desespero diante da marca do pênalti, a morte, de repente, pow!, o tiro, a fumaça, o cheiro de pólvora no ar, afinal, o grito de dor, “o filho da puta acertou a minha orelha! Filho da puta”, sangue, Teodoro desaba no chão, soltando o revólver, Ramiro se aproveita, dois revólveres, um em cada mão, José começa a rir, “você atira muito mal, irmão!”, as duas meninas bêbadas e drogadas em excesso no sofá despertam num susto com o disparo mas logo voltam a dormir, Teodoro esperneia com a mão sobre a orelha estraçalhada, sangue na mão, na camisa nova, no carpete, José gargalha, Ramiro pistoleiro retardado, “chega, chega, desse jeito vocês vão me matar de rir”, “pára de rir, seu porteiro de merda, o filho da puta atirou na minha orelha”, “vem, Ramiro, larga essas armas, vamos levar o Teodoro para o hospital”, Ramiro petrificado como se os revólveres fossem extensões das mãos, “larga, Ramiro, já acabou!”, lentamente, ele obedece, “vamos rápido, seus idiotas, estou perdendo muito sangue, deixa ele aí, cacete!”, “calma, Teodoro, vai dar tudo certo, depois disso tudo pela primeira vez temos uma chance de nos entender”, “pára de viadagem, Zé, vai bancar o filósofo agora?, vê se a carteirinha do plano de saúde está na minha carteira, rápido!”, “está, não vá fazer nenhuma bobagem, Ramiro, toma conta dessas meninas aí no sofá, se elas acordarem, manda embora”, um sopro de voz em resposta, “beleza”, José e Teodoro disparam corredor afora, “ação, ação, porra!”, Ramiro pega novamente os revólveres, que atração gaúcha!, e sentado no sofá encontra espaço entre as mulheres que ali dormem e rapidinho nele se aconchegam, de frente para o mar carioca, solitário em sentimento como um paulistano, silencioso como um mineiro, estóico como um paraibano, começa a refletir sobre o futuro da sociedade e como seria viver sem estereótipos, vida entrelaçada, vida misturada!, vida plural!, mas logo se recorda dos revólveres, das mulheres e do território conquistado a manter e expandir, do que precisa mais, não é mesmo?
Fim (por enquanto)
Encantador de serpentes (1)
5 músicas para melhorar a sua semana
1- Where is my mind – The Pixies
Clássico do Pixies, muito bem utilizado na trilha sonora de um filme polêmico com Brad Pitt e Edward Norton. Saqualé? Rock on!
2- Whistle for the choir – The Fratelis
A banda escocesa The Fratelis se notabilizou ao lado do Franz Ferdinand pela pegada dançante indie em terras bretãs. Por aqui é menos conhecida do que deveria. Essa é uma baladinha bem levadinha. Não tem como não gostar.
3- Expresso da elétrica avenida – Nação Zumbi
Nação Zumbi com elementos eletrônicos, mas sem perder a levada mangue, guitarra, xequerê, agogô, baixo boladão, muito mais, Kassin no game boy beat, vocal do caralho do Jorge Du Peixe.
4- Nervos de aço – Paulinho da Viola
Música do Lupicínio Rodrigues, lá dos primórdios, belíssima regravação que traz uma estranha paz.
5- Brand new start – Little Joy
Letra sob medida para quem está iniciando nova fase na vida. Dor de cotovelo de cu é rola, o tubarão continua nadando, sempre. O Almirante é mesmo um espertalhão da melhor qualidade!
Veja a Cinemateca do Rafa e o Futebolé nos números anteriores na barra ao lado. No pé de página dessa edição, divirta-se com o quadrinho sarcástico Pessoinhas
Aventura fantástica (4) Parte final da história
A Harmonia do Pentagrama, as cinco classes dos magos da Terra do Povo
Os integrantes das cinco classes dos magos da Terra do Povo decidiram se refugiar em cidadelas ocultas ou em reinos invisíveis. Os Magos das Águas, batizados pelos ciganos de Purificadores da Alma, ocultaram-se a sudoeste de Zutolifeca na cidadela-fortaleza subaquática Munguur, a cidadela perdida. Os Magos do Fogo, que na nomenclatura cigana eram conhecidos como Iluminadores do Destino, passaram a viver em um local a sudeste de Zutolifeca, um esconderijo no meio de uma tempestade infinita no Deserto do Sol Vermelho, chamado Focomoro, a cidadela de areia. Os Magos da Terra, chamados pelos ciganos de Curandeiros da Montanha, ocuparam uma cidadela enterrada na Montanha Ancestral a noroeste de Zutolifeca que tinha o nome Libinirlibiniri, o reino dos reis sem rei. Os Magos do Ar, ou Senhores dos Ventos como o povo cigano se referia a eles, encontraram abrigo a nordeste de Zutolifeca na Floresta Planetária e criaram o invisível Geenefete, o reino das árvores eternas. Os Magos do Vazio, que receberam dos ciganos o nome Conhecedores do Silêncio, estabeleceram-se ao extremo norte de Zutolifeca, encobertos pela escuridão da inexpugnável Cahmaad, a cidadela das trevas.
Durante diversos milênios, os magos possibilitaram aos seres humanos o privilégio da sabedoria da natureza, mas os conceitos de vida destas pessoas confrontavam os interesses dos novos governantes. Optaram por refugiar-se em locais ermos estrategicamente posicionados, a sudoeste, a sudeste, a noroeste, a nordeste e ao extremo norte da capital da Terra do Povo. Decidiram oferecer outra chance aos humanos, pois não desejavam aniquilar as criaturas que ajudaram a criar e a desenvolver, caso contrário, Peopleland, a antiga Terra do Povo, seria sacudida pela fúria de potentes terremotos, de tempestades de chuva e neve, de furacões destruidores e de maremotos que aniquilariam com a arrogância dos Seres Superiores. A temperança e a paciência se fizeram presentes. Os magos preferiram esperar.
Continua na próxima história...
O sentimento não pode parar!
Anuncie aqui e fuja da crise!
Veja Simpsons, leia Nietzsche, ouça Beatles, faça amor, que 2009 seja felizmente fora do comum, volte sempre ao Fantástico mundo do Rafa!
Enquanto isso em Pessoinhas