A descoberta da jovem escritora (wannabe a classic) - Parte 4

De Rafa Lima

Mais do céu

Antes era tudo tão difícil, o que mudou?, agora, o êxito contínuo das histórias de Vicky Pierrot, a reinvenção da importância da palavra escrita no Século 21, que conquista!, (re)conquista do tempo, tubarão mental, ler virou moda mais uma vez na cidade, o passado ecoa hoje e em breve de novo, megalomania compulsiva para multidões em livrinhos, “sim!, livros são asas”, fogos de artifício para as almas, “não se deixe levar pela vaidade, menina, se fizer sucesso, não mostre o rosto”, Tchuco avisa, “e nunca fale sobre nós com ninguém!”, mas ela esperou demais por esse momento, “não vou ter vergonha do gozo, eu quero gozar”, festa, festa, festa, não foi fácil chegar aqui, ao contrário do que alguns sugerem, “que boa vida leva o escritor”, e diferentemente do que idealizam outros, “que realidade fascinante tem quem escreve”, Vicky Pierrot teve que negociar com o cotidiano, dia após noite após dia após noite, fragmentar-se, às vezes até quebrar-se a contragosto, reinventar-se, limpar o fundo do poço, reaprender a encontrar o desejo de voar (com as asas doloridas é foda!) e principalmente identificar a própria raiz, conhecê-la, saboreá-la, reconhecê-la pelo cheiro e pelo gosto, essência agridoce, o pé-no-chão que aponta em contrapartida para o centro da Terra, equilíbrio?, ho, ho, ho, hi, hi, hi, ha, ha, ha, viva!, viva!, viver durante anos no passeio de montanha-russa emocional, “a vida do escritor é a dança do baile de formatura com o caos”, festa, festa, festa, Vicky Pierrot conhecida, lida, devorada por novas mentes, iludida?, o sucesso cega o sonhador, enquanto a podridão não cobra os juros do empréstimo, deixe a menina ser feliz!, Vicky Pierrot, sinônimo de felicidade, cria, escreve, produz, à maneira dos velhos tempos de início da Era Digital, lá longe, os dedos de volta ao teclado do computador, os olhos disparando palavras, conflitos, sentidos, soluções, mentiras?, também, talvez sem perceber que engana a si mesma, o melhor momento da vida, quer acreditar, mulher-invisível, o corpo feito de textos, Vicky Pierrot apenas escreve, mais nada, atinge o sentido mínimo, então, o repórter Andreas Melo, cão farejador, depois de muito xeretar, investigar daqui, procurar dali, ler isso, pesquisar naquilo, fingir um dia, atuar no outro, sempre registrando, passo a passo, hora a hora, “calma, que o caminho é por aqui”, descobre a mente criativa por trás da máfia das letras, aproxima-se, cria a conexão, alimenta o ego alheio, dança no baile de formatura com o caos.

“Admiro o seu trabalho”, “obrigada”, “parabéns, você produziu uma obra e tanto em pouco tempo”, “escrever é a minha conseqüência por estar viva”, “o seu nome é mesmo Vicky Pierrot?”, “na verdade, Vitória”, ela gosta dele logo de cara, “que divertido”, ele gosta dela, “mais bonita do que eu imaginava”, a princípio, papo informal sem más intenções, “você vai acabar divulgando tudo o que eu falar aqui, certo?”, divertem-se, “é o meu trabalho”, “como me achou?”, “tenho os meus métodos”, “quanto mistério”, “o mistério aqui é você”, “sou?”, “estou produzindo uma matéria sobre a máfia das letras”, ela ri, desconversa, “isso não existe, só serve para potencializar o interesse do público”, “não existe mesmo?”, “não que eu saiba”, “quem são os seus editores?”, “não posso contar”, “por quê?”, “eles são tímidos”, “não há nenhuma informação nos livros além do texto”, “minimalismo”, “é ilegal”, “estilo”, “sempre irônica?”, “não vai me entregar, vai?”, “já ouviu falar de Rufus Lemon?”, “outra invenção para tornar o Rio de Janeiro mais atraente do ponto de vista artístico depois do período de estagnação criativa que passou”, “lembra do Sêmen THC?”, “claro, eu tinha as músicas, sabia as letras, fui a vários shows”, “eu também gostava”, os dois cantam um sucesso musical do passado, “menino, como anos depois essas canções continuam a tocar nas nossas cabeças?”, “é o trabalho deles, também conhecido como lobotomia social”, riem mais, “você conhece o Tchuco?”, “o vocalista que desapareceu?”, “sim”, “vi em shows, ninguém soube dele depois que largou a banda”, “eu o encontrei”, “sério?”, “dois anos depois do fim, descobri que trabalhava num matadouro”, “que louco!”, “não é?”, “mas ele sumiu de novo?”, “perdi o rastro dele”, “você gosta muito do seu trabalho, hein, rapaz?”, “não menos que você”, “touchè”, “o que ele estava fazendo no seu apartamento na semana passada?”, “quem?”, “o Tchuco”, “você sabe onde moro?”, “ao que parece”, “você é perigoso”, ela sorri para ele, “não, se estivermos no mesmo barco”, “do que está falando?”, “eu posso fazer você chegar a mais pessoas do que imagina, milhões, a televisão é fascinante”, “como?”, “seja honesta comigo”, “para depois me virar as costas e eu ficar arrependida do que fiz?”, “você não vai se arrepender”, “como pode ter tanta certeza?”, “já vi acontecer muitas vezes, me dê uma entrevista exclusiva com a equipe de filmagem, vai ser conhecida no mundo todo”, “para quê?”, “para que você escreve?”, “para acertar as pessoas em cheio”, “viu só?, posso ajudá-la”, “o que tenho que fazer?”, “apenas me diga a verdade”, “não se sabe o que é a verdade, portanto, vamos inventá-la”, “só não minta”, “eu não minto, ao menos não enquanto estou trabalhando”, “trabalhando?”, “é, sonhando”.



Continua no purgatório...



Enquanto isso em Pessoinhas
(clique na imagem para ver melhor)

















13 comentários:

Vitor Leal disse...

Show de bola esse pessoinhas!!!
Quero ver mais seman que vem!

Diana Gondim disse...

oh, o encontro entre dois contos!! só sabe quem acompanha!

que beleza a felicidade produtiva da Vicky! Justo Vicky, a medrosa (convergência com uma terceira história, ehehhh)! Por que tenho a sensação que ela vai se dar mal?... =(

ah sim! a segunda tira de Pessoinhas eu não consegui abrir maior pra ler.. E quanto à primeira, prefiro não comentar ahahhah

bjs!!

Unknown disse...

Meu irmão parabéns por esse blog, tá irado e como todas as coisas vindas do Rafa tá muuuuito inteligente. O "pessoinhas" é muito foda. Um beijo do Pimpo.

Anônimo disse...

Isso! Tchuco, quem diria//////? Lá do matadouro, veio parar na máfia das letras! Adorei a ponte entre histórias. Aonde a sua imaginação vai parar, meu anjo?

Anônimo disse...

Ah, esqueci,
“a vida do escritor é a dança do baile de formatura com o caos”,
lindo e quase trágico. Keep writting!

Anônimo disse...

onde está o machado?
O machado do tchuco.

Anônimo disse...

http://fantasticomundodorafa.blogspot.com/2008_11_01_archive.html

achei algo peculiar aqui, algo relacionado à vontade de matar, escrever é criar, não escrever é matar? Sabe a que me refiro, Rafa?

Anônimo disse...

"Vicky Pierrot conhecida, lida, devorada por novas mentes, iludida?, o sucesso cega o sonhador, enquanto a podridão não cobra os juros do empréstimo, deixe a menina ser feliz!", tu gosta de mulher paca, hein, meu irmão?

Anônimo disse...

Rafa, me avise sempre das atualizações do blog, por favooor. adorei, acabei lendo todinho!
não vejo a hora de ler a continuação. PARABÉNS!
beijos
Fê, irmã da ana

Vitor Leal disse...

Hehehe, gostei do irmã da Ana.

Anônimo disse...

Porra, não ficou direito o link no cmentário acima
http://fantasticomundodorafa.blogspot.com/2008_11_01_archive.html
vamos ver se agora vai.

Anônimo disse...

desisto, Rafael.
quem quiser saber a que me refiro entre no mês de novembro e leia tudo desde e o início, ou vá pro inferno! Foi mal, essas tecnologias são muito idiotas.
Abraço, Raskólnikov

Unknown disse...

Great job.
Teu vocabulário tá animal, patentie tuas coisas, senão vou roubar tuas idéias. Bjss.